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24 janeiro 2012

Saída de Sérgio Gabrielli da Petrobrás.

Jairo Costa Junior
jairo.junior@redebahia.com.br
O telefone do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, não parou de tocar na manhã desta segunda (23), depois de confirmada sua saída do comando da empresa, marcada para 13 de fevereiro. Em uma das ligações, ouviu o convite  do governador Jaques Wagner (PT) para voltar à Bahia e integrar o alto escalão do Palácio de Ondina. Acertou a nomeação para depois do Carnaval, provavelmente março, mas dois detalhes ficaram fora da conversa: o cargo e o real motivo da troca de comando.
Aos olhos do público, a saída de Gabrielli vem sendo tratada como parte de um projeto político pessoal do executivo: o de se candidatar ao governo do estado em 2014. “Era uma coisa que estava combinada entre a presidente, Gabrielli e Wagner, que foi responsável pela indicação dele para o cargo”, relatou o deputado estadual Rosemberg Pinto (PT), amigo e um dos maiores aliados do baiano.
No entanto, a decisão da presidente tem muito mais relação com antigas divergências entre ela e Gabrielli do que com o pano de fundo eleitoral montado pelos seus correligionários.  Nos bastidores, era conhecida a birra de Dilma com o executivo, com quem discutiu rispidamente diversas vezes quando ocupava o Ministério das Minas e Energia e tentava interferir na gestão de Gabrielli, famoso por resistir às investidas de integrantes do Planalto. 

Gabrielli sai da Petrobras e vai se preparar para eleições
Um dos episódios famosos no anedotário político de Brasília revela o tamanho da tensão que acompanhava os contatos entre os dois. Em 2008, Gabrielli foi convocado para uma reunião com Dilma, então chefe da Casa Civil. Preocupada com a crise internacional que abalou os mercados, ela queria saber como andavam as aplicações financeiras da Petrobras.
Gabrielli teria afirmado que a Petrobras não seria atingida, porque não operava com papéis de risco e que, se isso fosse comprovado, ela poderia arrancar um olho dele. Dilma, então respondeu que, caso constatasse a existência de aplicações temerárias da empresa, arrancaria os dois olhos. Para azar do baiano, a estatal acabou socorrida pela Caixa em cerca de R$ 2 bilhões, já que foi atingida pelo terremoto financeiro.
Outros sinais servem para desmontar a tese de que a saída de Gabrielli tem como horizonte apenas a sucessão estadual. Mesmo sabendo há mais de um ano que Dilma queria vê-lo fora da estatal, o petista esperava que a troca de comando ocorresse após as eleições deste ano. Assim, teria tempo para se vitaminar à frente da estatal, além de manter o salário de R$ 60 mil, fora os bônus milionários. No governo da Bahia, vai receber R$ 12 mil. 
Indefinições
Após ser informado de que teria de ceder a cadeira para a preferida de Dilma, a diretora da Petrobras Maria das Graças Foster, Gabrielli acabou aceitando a proposta de Wagner. Disse se sentir honrado com a possibilidade de trabalhar no governo estadual, mesmo sem saber para onde vai.
“O governador falou com ele, o convidou para ocupar uma posição na equipe e Gabrielli aceitou. Mas não conversaram especificamente sobre qual área será. Isso vai depender de ajustes, que só deverão ocorrer entre o fim de fevereiro e o início de março”, informou o secretário de Comunicação Social, Robinson Almeida.
Em meio ao silêncio, as apostas continuam girando em torno de três secretarias: Fazenda, a menos provável, Planejamento e Indústria, Comércio e Mineração, ambas com maior visibilidade política. Com a ida para o governo estadual, Gabrielli vai aproveitar o cargo para se capitalizar eleitoralmente.
O próprio governador declarou diversas vezes que, se quisesse ganhar musculatura, o petista devia voltar à Bahia. Coisa que o executivo fazia com frequência. Ao longo de 2011, Gabrielli não perdia a oportunidade de aparecer em grandes eventos da empresa e em atos políticos do PT baiano, sempre sob aplausos da claque de petroleiros.
“O grande empecilho para o projeto de Gabrielli era estar fora da Bahia. Agora, o caminho fica pavimentado, mas ainda estamos longe de 2014. No momento, ele vai se concentrar em ajudar o governo”, complementou Rosemberg. 

 Nova presidenta da Petrobras ocupa atualmente a Diretora de Gás e Energia da estatal


Nas graças da amiga Dilma
Em março de 2011, a presidente Dilma Rousseff veio a Salvador anunciar investimentos na construção de um terminal de gás na Baía de Todos os Santos, mas acabou revelando um desejo guardado desde que começou a caminhada rumo ao Palácio do Planalto: o de ver uma mulher no comando da Petrobras. Ao lado, estava a diretora de Gás e Energia da estatal e sua amiga pessoal, Maria das Graças Foster. O recado estava dado.
Quase um ano depois, a Petrobras só fez confirmar o que já estava traçado. Em 13 de fevereiro, Graça Foster, como é conhecida nas rodas do poder, vai entrar para a história como a primeira presidente da empresa, da mesma forma que a amiga Dilma entrou ao suceder Luiz Inácio Lula da Silva. Contudo, as semelhanças entre elas não estão restritas apenas aos feitos históricos.
Mineira como Dilma, mas carioca por opção, Graça é descrita como dona de um estilo duro, do tipo “gerentona”, sobretudo no trato com subordinados e na maneira obcecada com a qual persegue metas e resultados, assim como a presidente. Aos 58 anos, mãe de dois filhos e avó de uma neta, a exemplo da amiga, a engenheira química formada pela Universidade Federal Fluminense, com MBA em Economia pela Fundação Getúlio Vargas, também é reservada na vida particular. Não frequenta círculos sociais e evita ao máximo dar entrevistas.
A similaridade de temperamento aproximou as duas, que se conheceram em 2000, durante uma visita feita por Graça, funcionária de carreira da Petrobras, ao gabinete de Dilma Rousseff, então Secretaria de Minas e Energia do Rio Grande do Sul. Em janeiro de 2003, a engenheira foi convidada a ocupar a Secretaria de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério das Minas e Energia, comandado por Dilma, com quem estreitou laços de amizade.
Em 2005, Dilma deixou o ministério em junho para assumir a Casa Civil da Presidência no lugar de José Dirceu. Graça também ficou nas Minas e Energia: em setembro, voltou ao Rio, alçada à presidência da Petroquisa, subsidiária da Petrobras no setor petroquímico, de onde saiu para presidir a BR Distribuidora. Em 2007, ela assumiu a Diretoria de Gás e Energia da Petrobras, cargo que acumula com o comando do braço da estatal na área de Gás, a Gaspetro. Sua atuação recebeu sucessivos elogios da chefe, sobretudo pela obstinação em ampliar a oferta do produto no mercado.
Com a eleição de Dilma, Graça ganhou o centro das especulações em torno da montagem do novo governo. Ao longo do período de transição, pipocaram notícias que asseguravam sua presença na cúpula do Planalto ou mesmo na presidência da Petrobras. Veio 2011 e ela permaneceu na mesma cadeira. Mas já sabia que aquele desejo revelado pela presidente em Salvador viraria realidade em breve.

Troca em momento de baixa

A nova presidente da Petrobras vai assumir num momento em que o mercado “pune” a companhia por dar um preço para suas ações abaixo do potencial de crescimento da empresa. O motivo é, principalmente, a capitalização realizada em 2010, que, ao aumentar a participação da União na empresa, elevou também a possibilidade de ingerência política em sua gestão.
O resultado é que o valor de mercado da estatal caiu por dois anos seguidos, em 2010 e 2011, embora comece a esboçar reação. No fim de 2005, ano em que José Sergio Gabrielli assumiu, a companhia estava avaliada em R$ 171,4 bilhões. Com o pré-sal, chegou ao pico de R$ 429,9 bilhões em 2007. Fechou 2011 em R$ 291,6 bilhões, reagiu nos primeiros dias de 2012 e valia R$ 331,8 bilhões na sexta-feira. O valor das ações caiu 23% em 2010 e 18,3% em 2011.

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